O tabagismo é a principal causa evitável de mortalidade, responsável por mais de sete milhões de mortes em todo o mundo e mais de 480.000 mortes nos Estados Unidos anualmente.
Se as tendências atuais continuarem, o tabaco matará mais de oito milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano até o ano de 2030.
O tabaco originou-se na América, onde a população indígena que vivia aqui antes da chegada dos europeus mascava ou fumava tabaco em rituais religiosos. Plantava-se a folha em todo continente, e após o comércio com os colonizadores, chegou em toda a Europa. Após sua chegada no velho mundo, o tabaco alterou imediata e dramaticamente o contexto da política econômica dos governos, tornando-se a maior fonte de renda dos cofres públicos.
Globalmente, estima-se que 933,1 milhões de pessoas fumam, a maioria dos quais são homens e residem em países de baixa a média renda.
Agora vamos analisar alguns mitos relacionados ao tabagismo.
- FUMAR OCASIONALMENTE NÃO É TÃO PREJUDICIAL
Qualquer exposição ao tabaco aumenta significativamente o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias, além de câncer. Pessoas que apresentam predisposição genética para desenvolvimentos dessas doenças, poderão apresentar alterações pulmonares com pequenas exposições.
- FUMAR CIGARRO CONVENCIONAL É PIOR QUE PALHEIRO
O palheiro ou cigarro de palha é mais comumente utilizado em áreas rurais, onde se desenvolveu o costume de enrolar fumo de corda picado em palha de milho. Em áreas urbanas, o cigarro de palha pode ser montado com o fumo industrializado. Mais recentemente vem sendo comercializados cigarros artesanais em que os componentes do produto (palha e tabaco) vem embalados e permitem a montagem pelo usuário.
O cigarro artesanal não possui nenhum tipo de filtro, e a palha não permite a ventilação do tabaco no interior do cigarro, fazendo com que ocorra uma grande inalação de material particulado e de monóxido de carbono. Considera-se que fumar um cigarro de palha equivale a fumar três a cinco cigarros industrializados.
No caso dos charutos, a fumaça contém muitos dos mesmos compostos tóxicos e cancerígenos encontrados na fumaça do cigarro, e indivíduos que fumam quatro ou mais charutos por dia são expostos a uma quantidade de fumaça equivalente a 10 cigarros, mesmo aqueles que não inalam estão expostos à sua própria fumaça ambiental.
O uso de uma hora narguilé, por sua vez, é equivalente à fumaça de 100 a 200 cigarros, podendo ser a porta de entrada para a dependência do cigarro.
- CIGARRO ELETRÔNICO NÃO CAUSA DANOS PULMONARES
Em 2019, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relataram mais de dois mil casos suspeitos de doenças pulmonares graves (EVALI) ligadas ao uso de dispositivos de e-cigarro para aerossolizar substâncias para inalação. Na maioria dos casos, o tetrahidrocanabinol (THC) foi inalado três meses antes do início dos sintomas; muitos pacientes também inalaram nicotina, e alguns pacientes inalaram apenas nicotina.
Cartuchos de cigarro eletrônico recarregados obtidos por meio de fontes informais ou ilícitas e contaminados com acetato de vitamina E parecem estar mais fortemente associados a casos de EVALI. O uso de cigarros eletrônicos também tem sido associado ao desenvolvimento de pneumonia eosinofílica aguda.
- O TABAGISMO ESTÁ RELACIONADO APENAS AO CÂNCER DE PULMÃO
O tabagismo está relacionado não apenas ao câncer de pulmão, mas também ao câncer de laringe, cabeça e pescoço, esôfago, estômago, cólon e reto, fígado, pâncreas, rim, bexiga, colo uterino e leucemia mielóide aguda.
O risco de câncer diminui gradualmente depois que um indivíduo para de fumar, caindo para aproximadamente a metade em comparação com aqueles que continuam fumando 10 a 15 anos após a cessação, e continua a diminuir depois disso.
Entre as pessoas com câncer relacionado ao tabagismo, a cessação do tabagismo diminui o risco de desenvolver uma segunda malignidade relacionada ao tabagismo e melhora os resultados do tratamento do câncer.
Além de neoplasias, o tabagismo tem múltiplos efeitos nocivos na fisiopatologia cardiovascular, incluindo vasoconstrição coronariana, aumento da hipercoagulabilidade, dislipidemia, inflamação e disfunção endotelial. A incidência de infarto agudo do miocárdio aumenta seis vezes em mulheres e três vezes em homens que fumam pelo menos 20 cigarros por dia, quando comparados com indivíduos que nunca fumaram.
- NÃO EXISTE MEDICAMENTO PARA AUXILIAR A CESSAÇÃO DO TABAGISMO
Todos os pacientes que estão motivados a parar de fumar devem receber aconselhamento terapêutico estruturado/abordagem intensiva. Os principais objetivos do acompanhamento terapêutico são: Entendimento do problema (riscos do tabagismo e os benefícios de parar de fumar), melhora no manejo dos sintomas de abstinência (autocontrole), produzir modificações no pensamento e no sistema de crenças do paciente, para promover mudanças emocionais e comportamentais permanentes.
Associado ao acompanhamento médico e psicológico, existem medicamentos que auxiliam no processo para cessação de tabagismo, visando a redução da dependência à nicotina e controle dos sintomas de abstinência.
- O CIGARRO ELETRÔNICO PODE SER USADO PARA CESSAR O TABAGISMO
Existem cerca de 2.000 produtos químicos que são inalados com o uso de sistemas eletrônicos de liberação de nicotina, a maioria dos quais é ignorada. O aerossol deles não é um “vapor de água” inofensivo,: ele contém metais pesados, partículas ultrafinas e agentes cancerígenos.
Portanto, eles compartilham os mesmos efeitos adversos à saúde dos cigarros combustíveis e também têm seus próprios riscos específicos, como a EVALI, por exemplo. As consequências do uso prolongado desses dispositivos continuam desconhecidos.
Cigarros eletrônicos não são um tratamento de cessação do tabagismo. O uso destes dispositivos causa doenças, replica características comportamentais e sociais do tabagismo, perpetua a dependência da nicotina e renormaliza o tabagismo.
Este texto visa esclarecer algumas dúvidas e fornecer informações gerais acerca do tabagismo aos pacientes. Em caso de dúvidas, entre em contato conosco.
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