Existem dois tipos de imunização, a passiva, onde os anticorpos contra um organismo infeccioso específico (ou a toxina produzida por um organismo) são administrados diretamente a uma pessoa (como por exemplo após um indivíduo ser mordido por animal com raiva); e a ativa na qual usam-se vacinas para estimular os mecanismos naturais de defesa do corpo (o sistema imunológico) a reconhecer e atacar as bactérias ou os vírus específicos contidos na vacina, com isso, sempre que a pessoa é exposta ao microrganismo, o corpo produz automaticamente esses anticorpos e outras substâncias para prevenir ou atenuar a doença.
Quando as pessoas são vacinadas contra uma doença, elas normalmente não contraem a doença ou contraem apenas uma forma leve dela.
Por que pacientes com doenças pulmonares precisam se vacinar?
As exacerbações infecciosas das doenças pulmonares crônicas são responsáveis por grande morbidade e mortalidade. Pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) , por exemplo, apresentam uma diminuição da função pulmonar e em sua funcionalidade a cada exacerbação apresentada, além de apresentar uma mortalidade de 39% em três anos após admissão em serviços de emergência e de 69% em três anos após internação em unidades de terapia intensiva (UTI).
O Datasus mostrou que de janeiro a novembro de 2023 ocorreram aproximadamente 350 mil interações por pneumonia adquirida na comunidade (PAC) em pessoas acima de 30 anos, com uma mortalidade entre 10 a 12% dos casos leves a moderados e próximo de 50% em casos graves, sendo esta uma das principais causas de morte em pacientes acima de 60 anos, principalmente em portadores de comorbidades pulmonares como DPOC, diabetes mellitus e insuficiência cardíaca.
A prevenção da PAC pode ser feita evitando os fatores de risco, como tabagismo, etilismo, desnutrição e melhorando a saúde oral, além de realização de vacinação específica contra influenza, covid-19, vírus sincicial respiratório e pneumococo (principais agentes responsáveis por pneumonias em nosso meio).
Quais as principais vacinas que devem ser realizadas?
- Influenza – A influenza é uma doença aguda, febril e autolimitada, causada por 2 principais vírus (Influenza A e B). A infecção por influenza favorece infecções respiratórias bacterianas secundárias e a vacinação é a medida mais eficaz para prevenir a gripe e principalmente reduzir a morbimortalidade associada à doença.
A eficácia da imunização contra influenza é de 70 a 90% em adultos jovens saudáveis e de aproximadamente 60% em idosos. O pico máximo de anticorpos ocorre cerca de seis semanas após a imunização, com duração média de seis meses (dependendo da idade e do estado imunológico de cada paciente). Contudo, o principal benefício da vacinação é a prevenção de pneumonias virais primárias ou bacterianas secundárias, reduzindo o risco de hospitalização e morte.
A vacina trivalente está disponível no SUS anualmente em pessoas a partir de 60 anos, crianças de 6 meses a menores de 5 anos, trabalhadores de saúde, professores das redes pública e privada, povos indígenas, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), pessoas privadas de liberdade, funcionários do sistema prisional, imunocomprometidos e portadores de comorbidades.
- Sars-Cov-2 (Covid-19) – Mais de 80% dos óbitos causados pela infecção por Covid-19 apresentavam uma ou mais comorbidades e/ou fatores de risco, com destaque para cardiopatias, diabetes, pneumopatias e imunocomprometimento.
A recomendação de vacinação contra a covid-19 para 2024 pelo Ministério da Saúde está direcionada às populações de maior risco, com o objetivo de oferecer melhor proteção contra doença grave e morte. No grupo dos pneumopatas crônicos graves, são incluídas as pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose cística, fibroses pulmonares, pneumoconioses, displasia broncopulmonar e asma grave. A vacina para o Covid é disponibilizada pelo SUS e deve ser realizada conforme orientação do Ministério da Saúde.
- Pneumococo – Pacientes pneumopatas frequentemente são colonizados por bactérias na via respiratória, incluindo o Streptococcus pneumoniae, sendo este o principal microorganismo causador de pneumonias e exacerbações agudas nestes pacientes. As vacinas para pneumococo são: pneumocócica conjugada 20-valente (VPC20); pneumocócica conjugada 15- valente (VPC15) e pneumocócica polissacarídica 23-valente (VPP23), são indicadas como forma de prevenção de Pneumonia Adquirida na Comunidade. Dentre elas, a VPP23 é fornecida pelo SUS após solicitação médica, o restante é disponibilizado na rede privada.
A VPP23 contém polissacarídeos da cápsula de 23 sorotipos do Streptococcus pneumoniae: 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12F, 14, 15B, 17F, 18C, 19A, 19F, 20, 22F, 23F e 33F, os quais são responsáveis por cerca de 70% dos casos de infecções pneumocócicas invasivas.
A VPC13 e a VPC15, por sua vez, proporcionam níveis de anticorpos melhores que a VPP23 e, possivelmente, persistência mais prolongada em adultos. Por isso, sugere-se o uso de vacina conjugada (VPC13 / VPC15) e a aplicação de vacina polissacarídica (VPP23) em indivíduos com mais de 19 anos pertencentes aos grupos de risco oito semanas após (imunodeprimidos) ou 12 meses (imunocompetentes) mais tarde.
- Vírus Sincicial Respiratório – O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos maiores responsáveis por infecções respiratórias em recém-nascidos e crianças pequenas, além de idosos acima de 60 anos, com uma mortalidade de aproximadamente 21% em pacientes acima de 60 anos. Somado a isso, foi responsável por aproximadamente 11,4% das hospitalizações dos pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e por 7,2% dos pacientes com asma.
A vacinação contra o VSR é recomendada para população acima de 60 anos, pessoas com doenças cardíacas e pulmonares, porém está disponível apenas na rede privada até o momento.
- Herpes Zóster – O Herpes-zóster, popularmente conhecido como “cobreiro”, é causado pela reativação do vírus Varicela-zóster, latente no organismo após o primeiro contato, quando causa a varicela, popularmente conhecida como catapora. Após uma infecção inicial, ele permanece adormecido no corpo humano e pode ser reativado na idade adulta ou em situações de estresse.
Em indivíduos com doenças pulmonares, principalmente aquelas caracterizadas por diminuição da função pulmonar, com redução de capacidade vital, qualquer obstáculo à realização das incursões respiratórias ou dos movimentos de tosse, como por exemplo a dor, podem causar acúmulo de secreção e infecções secundárias, piorando o quadro de base.
Esta doença, além de ser extremamente dolorosa e aumenta o risco de doenças cardiovasculares. A Vacina Herpes-Zóster Recombinante é recomendada de rotina a partir de 50 anos, no esquema de duas doses (0-2 meses), mesmo para pacientes que já tiveram a doença ou que foram vacinados previamente com a vacina atenuada. Esta imunização está disponível apenas na rede privada até o momento.
- Coqueluche – A coqueluche é uma infecção respiratória, transmissível e causada por uma bactéria (Bordetella Pertussis). Ela persiste como importante problema de saúde pública, ocorrendo mesmo nos países em que as coberturas vacinais no primeiro ano de vida são elevadas. As vacinas são eficazes na prevenção de formas graves da doença, porém, a duração da proteção induzida por essas vacinas é curta, em média inferior a dez anos, por isso são necessárias doses de reforço ao longo da vida.
O contágio ocorre por meio de contato com gotículas respiratórias de pessoas doentes nas primeiras três semanas do quadro, sendo que até 80% dos contactantes domiciliares não imunes podem adquirir a doença.
Pacientes com doença pulmonar que já tenham um comprometimento de função respiratória apresentam elevada morbimortalidade devido às crises de tosse intensas levando a fraturas de costela, pneumotórax e até crises convulsivas. Os pacientes com DPOC apresentam duas vezes mais risco de infecções pela B. Pertussis.
Este texto visa explicar a importância de diversas imunizações para pacientes pneumopatas. Em caso de dúvidas, entre em contato conosco.
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